Lua Nova em Peixes

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Carnaval em Madureira – Tarsila do Amaral

Manhã de sábado de carnaval, tudo quieto, menos minha caixinha de som que toca uma playlist que fiz no Deezer, minha singela e possível homenagem a esse grande feriado nacional.

Ano 2014, Planeta Terra, Brasil, ano de copa do mundo, o país volta das férias na quarta-feira e para de novo em junho quando a bola rolar no gramado de um estádio construído para receber esse espetáculo mundial (há controvérsias).

Vivemos agora assim, entre um show e outro, o importante é tentar desviar o assunto.

Nada contra futebol, carnaval, mulher pelada, alegria, música, brincadeira, sexo, beijo na boca, futebol arte, estádio novo, “melhorias na cidade”, ciclo faixa pintada de qualquer jeito, cerveja, suor e samba, mas sim contra o tratamento desigual que é dado à questões  muito mais relevantes quando estamos buscando felicidade, respeito, igualdade,  melhor nível de ensino, qualidade de vida, um transporte decente, conseguir levar o filho no médico, dignidade, acesso à justiça e pode seguir a lista você mesmo.

Minha seleção carnavalesca segue cada vez melhor, só não pego o primeiro avião por vários motivos mas o principal deles é um tornozelo quebrado, nessas horas eu mando um beijo para a tecnologia.

E a lua nova em peixes é isso tudo, peixes gosta da fantasia, do sonho, do lúdico, mas se a fantasia é boa ou não, isso só depende da gente.

Peixes é também cheio de amor e adora um recomeço, mudar de lado é possível se for para ser feliz.

Boa Lua Nova!

(Fabi)

A Dança – Pablo Neruda

A Dança - Pablo Neruda

Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
Ou flecha de cravos que propagam fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e
Leva dentro de si, oculta, a luz daquelas flores.
E graças a teu amor, vive oculto em meu
Corpo o apertado aroma que ascende da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde.
Te amo diretamente sem problemas nem orgulho;
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

Senão assim, deste modo, em que não sou nem és.
Tão perto de tua mão sobre meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Autodefesa

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Há uns dias atrás escrevi um texto no qual afirmava que todos somos tendenciosos e manipuláveis, em diferentes graus, é claro, de diferente forma, ainda bem.

Tenho observado nas redes sociais um crescente embate  sobre a nossa atual situação social e política, o que acho bem positivo se queremos ver mudanças acontecerem.

Vivemos tempos difíceis, o que já era esperado, mas o pior de tudo é que não estamos enxergando a saída desse caos. E o que acontece quando ficamos sem saber o que fazer? Nesse caso, desespero. E desespero que gera muitas reações descabidas. Quero acreditar que estas reações sejam realmente fruto desse desespero velado e disfarçado em que nos encontramos, não que isso sirva de justificativa, mas pelo menos serve de explicação e me dá um pouco de esperança.

 Estamos em fevereiro de 2014 e nos deparamos com cenas de torturas dignas da Idade Média, sendo aplaudidas por muito cidadão que, conforme alegado em causa própria, cumpre todas suas obrigações e está do lado do BEM. Será?

 Longe de mim apontar aqui defeitos alheios, até porque na minha condição humana, sou cheia deles, o que quero provocar é uma reflexão.

 Quando você vê uma cena chocante, como a de um ser humano sendo torturado, machucado, agredido, veja bem um SER HUMANO, isso não te causa nenhuma repulsa? Compaixão? Empatia?

 A mim embrulha o estômago, a imagem não sai da minha cabeça e minha fé na humanidade diminui mais um pouquinho. Como já foi dito por pesquisadores, filósofos e conhecedores da causa, a violência não é a solução. Sim! Tem  gente que só estuda isso, passa horas do dia a pensar sobre o assunto, meses do ano e anos da vida e você com seu conhecimento raso sobre a questão quer saber mais que eles? Não que não sejam passíveis de erros, lógico que são, só que acho que você nessa caso também sai perdendo.

Então alguém grita, mas esse ser humano aí que foi amarrado no poste, torturado e machucado não é tão “humano” assim, é um ladrão, vagabundo, delinquente,  está do lado do MAL e merece sofrer e pagar pelos seus erros e pecados e isto ainda servirá de exemplo para tantos outros, afinal alguém tem que “colocar ordem nessa galinheiro”! Quanto heroísmo barato! Se isso desse certo, o problema já estava resolvido e certamente viveríamos no paraíso.

Vamos deixar claro aqui que antes de qualquer pessoa ser considerada “vagabundo, ladrão, delinquente”, ela é humana igual a você, ela nasceu da mesma forma que você, ele sente dor, desespero, dúvidas e também é manipulável igual a você, ela poderia até ser você e você ela, se aprofundássemos a questão filosófica, só que a grande diferença aqui é que um teve mais sorte que o outro,  melhor acesso à direitos e com certeza manipuladores menos perversos.

 Não estou aqui defendendo bandido,  estou advogando em causa própria, não quero mais viver nos desespero, acuada, com medo. Não quero que cada vez que meu filho ponha o pé para fora de casa, independentemente do horário,  eu fique apreensiva e com o coração na mão, só pedindo a Deus que o proteja, como também não quero que ele prove desse mesmo veneno, em relação aos filhos dele, meus netos. Talvez nem eu e nem ele, do jeito em que anda a coisa, viveremos esse meu sonho.

 Se você continuar colocando tudo no mesmo saco, só vai mascarar o problema, continuará mentido para si mesmo que está do lado do BEM e que infelizmente não há mais nada a ser feito. Isso realmente é mais fácil e cômodo, sempre vai existir alguém para pensar por você e lhe diz o que fazer , em quem votar, o que usar, de que lado ficar (aí que mora o perigo) e você igual a um fantoche,  vai seguir   acreditando que só pode ser feliz nas férias, longe do seu país, e quando voltar dessas férias, sairá falando que voltou do Paraíso, o Primeiro Mundo, que de paraíso não tem nada, só estão um pouco mais evoluídos que a gente,  principalmente nas suas  políticas sociais! Uma pergunta: Você acha que o primeiro mundo se construiu sozinho? Estude mais história.

Todas as coisas se constroem, não nascem prontas, desde uma família estruturada até uma sociedade mais justa, e se eu sou contra a violência,  realmente não a desejo nem para o meu pior inimigo, isso é primitivo, perverso e não resolve nada.

É uma equação matemática:

violência + violência = MUITA VIOLÊNCIA

violência – violência = MENOS VIOLÊNCIA

 Entendeu? Já é um começo.

Só peço uma reflexão, desligue a televisão e pense, leia a notícia do jornal e tente utilizar seu olhar crítico, duvidando de tudo sempre, questionando, isso é saudável e não dói.

Fazer política não envolve fé em algo ou em alguém, fazer política é ver em si a capacidade de questionamento e opinião, é respeitar o próximo, é estar do lado da vida, pois assim como a vida é preciosa para você, ela é preciosa para qualquer um na sua condição humana, sem distinção de raça, cor, classe social ou religião e sem a vida não existiria a política.

 Fabiana Leivas

Faça do bom senso a nova ordem

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Somos todos tendenciosos e manipuláveis, em níveis diferentes, de acordo com nosso interesse ou por livre convicção. Somos escravos de idéias alheias e ainda acreditamos num modelo já formado de sociedade.

Você é tão moderno, se acha tão moderno, mas é igual aos seus pais“, já dizia a mais de vinte anos atrás Renato Russo e nada mudou, talvez o lugar dos personagens na história ou o lugar dos acontecimentos.

Você agora deve estar pensando que eu estou completamente enganada, afinal de contas você é livre e tem suas próprias idéias, ILUSÃO.

Queremos um mundo melhor, mas vivemos apegados a conceitos e julgamentos,  continuando a procurar por culpados com o espelho bem na nossa frente. Realmente o buraco é bem mais embaixo.

Mudanças verdadeiras são internas e começam dentro da gente, em casa, nos nossos círculos mais íntimos. Você não respeita a opinião do vizinho e quer mudar o mundo. Vai pra rua protestar e não consegue dizer bom dia e muito obrigada para o porteiro. Tá tudo errado.

Faça do bom senso a nova ordem“, um beijo não no ombro, mas no coração do Renato Russo mais um vez.

Fabiana Leivas

Poesia e outros assuntos